O meu cais

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Parto sem dor

Cais é onde tudo chega e de onde tudo parte!


Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve como uma recordação duma outra pessôa
Que fôsse misteriosamente minha.
Álvaro de Campos - Ode Marítima

Há um ano foi o meu dia de chegar, hoje o de partir.

Parto dentro de momentos, mas parto sem dor, talvez apenas com a sensação da saudade que fica de um porto onde chegava quase todas as manhãs, para partilhar a luz do dia, o pôr-do-sol de ontem ou a magia dos olhares com que me cruzo pela vida.
Desenhar com as letras as emoções, as viagens, os cheiros e as cores de um jantar à luz das velas, de um momento à beira-mar, de uma paisagem que fica a pairar por detrás dos nossos olhos, horas sem fim.
Sonhos perdidos, desejados, conseguidos. Altos e baixos, saltos e quedas, mãos que nos levantam, braços que nos consolam, sorrisos que se rasgam para partilharmos os mundos.
Continuarei a aportar noutros cais que fui conhecendo e que são verdadeiros portos de abrigo, onde me deixo passear, mas este vai estar encerrado. Talvez volte um dia, quem sabe, para um novo cais, com uma nova maré... mas agora é tempo de outras partidas, de outras descobertas.

Cais das Codornizes (XIV)



O cais faz um ano. Parece mentira... mas é verdade e, porque o é, apetece-nos festejar. A banda sonora não podia ser mais apropriada. É de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos e merece vozes à altura da música e da letra, preciosas. A Sofia oferece-vos Elis Regina, o Pedro escolheu o próprio Milton com Simone. Liguem o player e que cada um invente o cais onde gostaria de deitar âncora!




Para quem quer se soltar invento o cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor e sei a dor de me lançar
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar

segunda-feira, 29 de setembro de 2008


Adormece aqui.


Vem de mansinho deitar-te a meu lado, cai em meus braços largando pedaços de beijos e mar. Deixa vir o sol, que nos aquece e o vento que nos enlaça na calmia da maré. Deixa ser o dia qualquer que vai chegar, deixa ser manhã, para adormecermos de novo entrelaçados.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Ainda a pensar no verão...

Apesar de o Outono ter chegado, ainda guardo os desejos das tardes quentes de verão, dos passeios à beira-mar e de um pôr-do-sol que não me canso de reinventar.


Our last summer

1800

Pastelaria 1800 - Largo do Rato, Lisboa


Já não bastava já não podermos ter a tua casa como companhia dos jantares de Domingo - onde o teu lugar estaria sempre reservado, à espera que nos contasses a idade da terra ou as histórias da História -, ainda te mudaram a casa onde almoçavas.

Já lá vão quase dois anos e nunca mais consegui ali entrar.

Sempre que passava à porta, espreitava a ver se lá estarias de pé, ao fundo do balcão, a almoçar pão com queijo, um croquete e água. Mas, como nunca mais te vi, nunca mais entrei. Nunca mais parei para comprar um gelado, comer um bolo ou até tomar café. Já passaram dois Natais e nunca mais lá voltei para as azevias de batata doce. Tu não estavas, eu não entrava.

No outro dia, decidi que era hora de lá ir. Ocupar o teu lugar e pedir o que me apetecesse. Mas estava fechada para obras. Ironias da vida, esperara a minha coragem e fechara na véspera. Esperei que reabrisse, sem grande curiosidade de ver a casa nova. Hoje, porém, deram-me coragem e lá fui. Olhei primeiro, para ver se estavas. É um hábito que todos temos, sabias? Olhamos sempre à espera que lá estejas. Mas o teu sítio já não está lá, o balcão já não faz curva. Cheguei-me mais à ponta, esperei que o mesmo senhor de sempre me viesse servir e olhei à volta - já não era nossa casa! Café, só café e uma vontade de sair dali. Deitaram paredes abaixo, mataram-lhe os espíritos que por lá andavam e, com eles, o teu. Não sei se ainda hei-de procurar-te quando lá passar, não sei se hei-de esperar ver-te, se hei-de parar para um gelado dos mais caros... valeu a companhia de muitas das nossas conversas de almoço e a surpresa de um travesseiro à minha espera.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

OUTONO

Nem parece que ele chega agora...


Por montes e vales, ravinas e prados
Ressoa o pranto da terra
Em despedida do verão ameno.

Que mais podem fazer os altos ramos
Das frondosas árvores?

E como pode o pranto cessar?

Thomas Nicholson
(Tradução de José Domingos Morais )

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Preguiça de voltar


Voltei de férias, mas a cada fim-de-semana ainda volto à ilha, para acordar com o burburinho do mar.

Regressei cheia de preguiça e anseio pelas tardes de sexta-feira, em que parto sem dor para longe do rebuliço desta cidade.

Quero ficar longe, na acalmia, deixar-me perder horas sem fim entre mergulhos e marés.

É esquecer que a nortada impera e esconder-me numa Praia das Cebolas, abrigada do vento, povoada de rochas que teimo em saltar, sem nunca cair. É sentar na rocha desenhada como um banco e esperar que a onda venha salpicar-nos.

É acordar cedo, mesmo quando a noite foi até ser dia, e deixar-me levar para a praia, adormecer num colo, numa barriga e esperar que a minha me acorde a dar os bons dias.

É ficar a ver a maré descer e subir, como se as horas não passassem por nós, como se mais nada importasse... e, realmente, nada mais importa.

É esperar o pôr-do-sol e ir vê-lo na esplanada, porque ele já se põe para lá da Papoa. Esperar que a noite caia, por um jantar de muitos. Adormecer de cansaço e acordar refeito, horas depois, para mais uma dança, mais uma tosta, gargalhadas. E, quando já for quase dia, partir em busca de um petisco para uma barriga ainda enérgica, quando as pernas já não aguentam mais.

É chegar a casa, deitar e adormecer... umas horas, poucas, que lá fora o sol já nasceu e com ele, o mar, a areia e os sorrisos de quem nos espera à beira-mar.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Regresso a casa


mas ainda sinto no ar um desejo de ficar na ilha, de atravessar o mar e entrar no pôr-do-sol.

São sempre assim as últimas tardes, na praia até o sol desaparecer atrás das casas e nós todos corrermos para trás delas em busca dos raios que ainda restam. Esperar que a noite caia e esquecer o frio, o vento norte, a humidade que teima em cair. Sentar na rocha e esperar só que aquele momento eterno acabe e nos leve a casa, ao trabalho, ao mundo...

E ficar entre as recordações do marisco dos últimos dias, os últimos mergulhos como se não mais houvesse mar, os desenhos na areia a eternizar desejos, as toalhas já duras de tanto sal e os corpos dourados de quem foi quase peixe no mar, os beijos e abraços de despedida que em tempo nos levavam às lágrimas, um 'até para o ano', 'vemo-nos por aí'... ficam a saudade e a certeza de que voltaremos outra vez!

Chegou Setembro.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Agosto

Volto em Setembro



AGOSTO

Em tardes como esta o mar é uma
bênção,
o gesto azul de um deus,
a memória de um tempo sem tempo.

Em tardes como esta cada instante
sabe a eternidade
e o horizonte, este horizonte
é um sinal do que ainda pode ser
isso a que chamam beleza:
uma onda que nasce enquanto outra
morre desfeita em espuma
levando atrás de si o nosso medo,
a nossa esperança demasiado humana,
o pacto que selámos e quebrámos
com os sonhos mais antigos, os que um dia
foram apenas nossos,
mas são agora o mar, sem nome nem
destino,
coisas que vão e fingem regressar
mas já não nos pertencem.



Fernando Pinto do Amaral

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Banda sonora da biblioteca


Cheap Trick- I want you to want me

Hoje, lembrei-me desta...

Janet jackson - Together Again

terça-feira, 5 de agosto de 2008

PLANTA ALTA E TRIGUEIRA


As plantas acenavam ao vento de agosto, nas suas hastes finas e verdes. E disse-me a mais faladora de todas, alta e trigueira:

- Dás-me dez anos da tua vida?

Eu só tenho cinco anos, pus-me a contar pelos dedos, vi que ia ficar com muito pouco.

- Dou - disse eu.

E ainda hoje, que nunca mais soube de mim, vou com o vento, balouçando. E agosto é todo o ano para mim.

Ruy Belo

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Bom fim-de-semana...


Espera-me a areia quente no fim do dia, recebe-me o poente a cair na imaginária linha horizontal.
Entrego-me à noite, ao murmúrio do mar, e anseio o amanhã de maresia, passeio à beira das ondas, até ao longe, onde as rochas são poucas e o areal deserto, onde seremos um só, entrelaçados na pureza da maré.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

The Story

Estou apaixonada por esta história...


Brandi Carlile - The Story

terça-feira, 29 de julho de 2008

La maternidade - Baltasar Lobo

Faço-te um berço e guardo-te nos meus braços, quando te seguro no ventre. Pontas dos dedos que procuram desvendar cada parte do teu corpo - um pé, uma mão, a cabeça.

Desenho-te um rosto imaginado, uma pose possível e fico apenas a contemplar-te por detrás da pele que ainda nos separa. Estendo-te a mão e vens ao nosso encontro. Canto-te para adormeceres e navegas no mar onde ainda pertences. Jogas ao toca-e-foge, para um lado, para o outro... até cairmos no sono mais profundo, onde os nossos sonhos se encontram. E assim ficamos até ao amanhã, num abraço fechado, até despertares num soluço matinal.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Esperança

A um amigo...


"Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las.
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!"
Mário Quintana

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Tempo

O tempo perguntou ao tempo, quanto tempo o tempo tem.
O tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem.
Tempo de chegar e de partir

tempo de ficar, suspender

tempo de sonhar e voar dentro do próprio tempo

tempo de viver... dia, noite, manhã

tempo de agora, de hoje... o instante

tempo de desejo... dar-se ao vento

tempo de anseio... prender a âncora

tempo de silêncio, de solidão... o vazio

tempo de luz... duas mãos dadas

tempo que passa, vem, volta

como as noites de luar

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Apontamentos


Cada minuto é apenas um momento musical, sem memória. E a saudade não vem de longe, é como uma cor outonal na paisagem e muda como um poente...Não há futuro. Tudo é paisagem para os nossos olhos calmos e líricos. Sentimos a intimidade das coisas impossíveis.


Cristovam Pavia

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Paternidade (1)

Ao Tiago e ao António.
Joanne Swansborough
Generations of Love: Father and Son


Nota 1: Depois de uma promessa antiga a um pai muito especial, aqui fica o primeiro número da rubrica Paternidade!

Everybody knows...

Era uma tarde de pôr-do sol.
A lua quase cheia e a brisa do mar.

Realização de um desejo de anos sem fim... talvez desde as primeiras tardes de lareira, de snooker, de terraço, enrolados em mantas num Inverno sempre frio, ou em fins-de-tarde com outro pôr-do-sol no mar da Berlenga! Talvez um desejo mais longínquo de um Fevereiro ainda dentro de uma barriga, enquanto alguém já implorava para ir...

Vinte e três anos depois, o desejo fez-se realidade e as danças saltaram entre braços e abraços, com uma redonda barriga saltitante pelo meio.

Momentos perfeitos!



(Leonard Cohen - Famous blue raincoat - 1979)

A música que faltou!

Desejos...

O que me apetecia hoje...


Peixinhos da horta


Faça um polme com farinha, água, sal e um ovo. Bata muito bem. Arranje o feijão-verde, não o corte e passe-o por este polme, de todos os lados. Frite em azeite bem quente.

Alfredo Saramago, Cozinha Algarvia

Voltei...

Depois de duas semanas de 'férias à força'...

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Pausa

Depois do Domingo de Aleluia... em pausa até ao próximo Domingo.

Leonard Cohen - Hallelujah

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A dez dias de uma valsa

Ele vem aí...


Leonard Cohen - Dance me to the end of love

terça-feira, 8 de julho de 2008

Desenhando sorrisos

Desenhando sorrisos,
construindo pontes,
entrelaçando os braços,
balançando numa melodia de beijos.




Rita Lee - Doce vampiro

No escurinho do cinema

Faz hoje uma semana que ela veio a Lisboa e eu estive lá!
Andava ansiosa com as horas de dança que me esperavam na arena do Coliseu - assim foi!
Dançar desde o primerio Flagra até ao Lança Perfume!

Flagra no Coliseu de Lisboa, 1 de Julho 2008

Melodia matinal


Daniela Mercury - Pensar em você



É só pensar em você
Que muda o dia
Minha alegria dá pra ver
Não dá pra esconder
Nem quero pensar se é certo querer
O que vou lhe dizer
Um beijo seu
E eu vou só pensar em você


Se a chuva cai e o sol não sai
Penso em você
Vontade de viver mais
Em paz com o mundo e comigo

segunda-feira, 7 de julho de 2008


Regresso a casa...

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Férias

Chegaram as férias...

Se eu voltasse a nascer, e
as minhas mãos me ensinassem o caminho
que vai do coração ao mundo, e
os meus olhos me abrissem o círculo
que o mar desenha no horizonte,
e o meu nariz respirasse a luz que a manhã
solta de dentro da névoa, e os meus lábios
pedissem o pão de estrelas que as aves
trocam entre si, e os meus passos me conduzissem
para onde ninguém precisa de voltar,
o tecido da minha vida seria transparente
como o vidro da janela que não abro,
o fio que vou puxando seria eterno
como os números que contam os dias de um deus,
a tesoura da noite ficaria na caixa
que não precisei de abrir. Se eu voltasse
a nascer, e as velas do sonho me envolvessem
com o linho do seu vento.
Viagem, Nuno Júdice
Volto dia 6 de Julho

Éme de Mãe



Afinal o coração de mãe não é só um músculo que bate sem parar.


É um lugar mágico onde acontecem as mais extraordinárias das coisas...


O coração de mãe está ligado a cada coração de filho por um fio fininho, quase invisível.


É por causa deste fio que tudo o que acontece aos filhos faz acontecer alguma coisa dentro do coração de mãe.


Coração de mãe, de Isabel Minhós Martins, com ilustrações de Bernardo Carvalho